MANIFESTO UNICOPAS: Por um cooperativismo solidário como alternativa climática e justiça social
06/06/2025
Cooperativismo solidário: voz dos territórios
O cooperativismo solidário é um modelo de organização econômica enraizado na democracia participativa, na autogestão e no compromisso com o desenvolvimento local. Ao contrário de formas de cooperativismo empresarial, que muitas vezes se alinham a cadeias produtivas neoliberais e a projetos financeirização da natureza, o cooperativismo solidário:
- Coloca o ser humano e os biomas em primeiro lugar, reconhecendo saberes ancestrais e tradições comunitárias;
- Valoriza a autonomia e a coletividade, onde cada cooperado tem voz e voto iguais, e os resultados são distribuídos de maneira justa;
- Gerencia recursos naturais conforme princípios de sustentabilidade, zelando pela floresta, pelas águas e pela terra como patrimônio de todos.
Em todo o Brasil, nossas cooperativas de catadores reciclam toneladas de materiais, reduzindo emissões de gases de efeito estufa; cooperativas agrícolas familiares cultivam alimentos agroecológicos e são guardiães de sementes crioulas; cooperativas extrativistas protegem as florestas e a biodiversidade, mantendo populações tradicionais como guardiões do equilíbrio.
Alternativa climática: economia de baixo carbono e economia circular
A crise climática exige respostas urgentes e radicalmente distintas do “crescimento a qualquer custo”. O cooperativismo solidário demonstra, na prática, que outra economia é viável:
- Cooperativas de catadores de materiais recicláveis transformam resíduos em nova matéria-prima, reduzindo a pressão sobre recursos naturais e diminuindo a emissão de metano nos aterros.
- Cooperativas de agricultura familiar agroecológica adotam sistemas agroflorestais e manejos que aumentam a captura de carbono no solo, conservam a água e garantem segurança alimentar para comunidades vulneráveis.
- Cooperativas de energia renovável comunitária investem em mini e micro usinas solares de base cooperativista, promovendo o acesso justo à energia limpa e reduzindo a dependência de fontes fósseis.
Essas práticas são mais do que exemplos locais: são modelos replicáveis para enfrentar a emergência climática em todos os biomas. Ao priorizar cadeias curtas de valor, insumos locais e mão de obra organizada coletivamente, o cooperativismo solidário sequestra carbono e gera renda digna, fortalecendo territórios que não se submetem à lógica do “desmatamento zero” apenas no papel, mas na prática cotidiana.
Justiça social e transição justa: rompendo com o racismo ambiental
O aquecimento global agrava desigualdades históricas: as populações negras, periféricas e indígenas são as primeiras a sofrerem com queimadas, inundações e insegurança alimentar. O racismo ambiental se manifesta quando políticas públicas não reconhecem o protagonismo dessas comunidades ou, pior, quando as ameaças climáticas aprofundam violações de seus direitos. O cooperativismo solidário, ao fortalecer redes de apoio mútuo e valorizar saberes ancestrais, cumpre papel central na construção de uma transição justa:
- Promovendo empoderamento comunitário: mulheres negras e rurais, quilombolas, povos indígenas e catadores encontram nas cooperativas espaços de liderança e protagonismo, rompendo ciclos de exclusão.
- Garantindo segurança alimentar e soberania: agroecologia e sistemas agroflorestais cooperativados preservam variedades locais e asseguram que alimentos saudáveis cheguem às mesas das periferias.
- Distribuindo renda de forma solidária: cada trabalho cooperado converte-se em economia circular, minimizando vulnerabilidade econômica e criando redes de solidariedade que resistem às oscilações de mercado.
Somente uma transição que combata o racismo ambiental e coloque no centro as vozes historicamente silenciadas poderá gerar soluções duradouras. Cooperativismo solidário significa justiça climática em prática, pois une a luta contra o colapso socioambiental à afirmação dos direitos humanos.
Chamado à COP30: reconhecer e fortalecer o cooperativismo solidário
Ao acontecer na Amazônia, a COP30 será o termômetro global para medir o compromisso real dos países em relação à de de florestas tropicais e à justiça climática. Por isso, exigimos:
1. Cotas de participação para cooperativas solidárias nas delegações oficiais
Que representantes de cooperativas de catadores, agricultores familiares, extrativistas e energias renováveis comunitárias integrem as mesas de negociação, garantindo que o Brasil leve à COP30 experiências concretas de economia de baixo carbono.
2. Linhas de financiamento climático direto
Que parte dos recursos dos fundos de mitigação e adaptação seja canalizada exclusivamente para cooperativas solidárias, com critérios de desburocratização e reconhecimento de práticas tradicionais de manejo de território.
3. Espaços temáticos na programação da COP30
Abertura de fóruns paralelos voltados a “Inovações cooperativas para o clima”, reunindo saberes populares, pesquisadores, financiadores e jovens ativistas para trocar experiências e construir roteiros de implementação imediata.
4. Incorporação do Manifesto do cooperativismo da agricultura familiar às NDCs
– Que o documento entregue ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que aponta oportunidades como acesso à energia solar comunitária, beneficiamento de produtos da sociobioeconomia e restauração produtiva de biomas, seja abraçado oficialmente como meta climática do Brasil.
Somente com essas ações concretas será possível transformar a COP30 em um ponto de virada: de discurso para ação, de exclusão para protagonismo, de crises para soluções baseadas na cooperação.
Nossa contribuição permanente: redes de solidariedade em todo o país
As cooperativas e associações solidárias da Unicopas estão presentes:
- Nos centros urbanos, conduzindo projetos de coleta seletiva, compostagem comunitária e hortas urbanas, semeando consciência ambiental e cidadania;
- Nas periferias, criando espaços de geração de renda digna e fortalecendo a articulação de jovens, mulheres e comunidades negras contra a violência socioambiental;
- Nas florestas e territórios tradicionais, garantindo que povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas mantenham seus modos de vida e sejam protagonistas na proteção da Amazônia;
- Em todos os biomas brasileiros, promovendo agricultura agroecológica, pesca artesanal sustentável e cooperativas de energias renováveis, em sintonia com a diversidade territorial.
Conclusão e compromisso
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, a Unicopas convoca:
- Poder público a incluir o cooperativismo solidário como eixo estruturante das políticas climáticas e de justiça socioambiental;
- Organizações internacionais e financeiras a destinarem recursos de forma direta e desburocratizada a cooperativas solidárias, reconhecendo sua capacidade de implementar soluções de baixo carbono e alto impacto social;
- Sociedade civil, movimentos sociais e empreendimentos solidários a fortalecerem as redes cooperativistas, celebrando a data aprendendo, divulgando e apoiando práticas de economia solidária;
- Meios de comunicação a darem espaço e visibilidade às cooperativas que trabalham, diariamente, pela floresta em pé, pela água limpa e pelo direito à vida com dignidade.
Reafirmamos que somente um modelo de desenvolvimento enraizado na solidariedade, na equidade e na preservação dos territórios poderá responder aos desafios da crise climática e ao legado de injustiças ambientais deixado pelo racismo. Que a mobilização deste 5 de junho seja o combustível para avançarmos rumo a uma transição justa, onde o cooperativismo solidário seja reconhecido como alternativa real e transformadora.
União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias – Unicopas
Brasília, 5 de junho de 2025
“Pela floresta em pé, pela vida digna e pela justiça climática: cooperar para transformar!”.
Unicopas